Uma escolha simples!

segunda-feira, 11 de abril de 2011

JÁ NÃO PODEMOS DIZER NADA!

Por: Sandra Cavalcanti
Professora de Português e Literatura, Instituto de Educação, Rio de Janeiro, RJ; Diretora de um Jornal de TV, TV Tupi, Rio de Janeiro, RJ; Assessora para Projetos Especiais, Lasa S.A., Grupo Cruzeiro do Sul; Membro, Carvalho Hosken S.A.; Membro, Centro D. Vital; Secretária de Serviços Sociais do Estado da Guanabara, 1962-1964; Presidente, BNH, 1964-1965.

Estudos e Graus Universitários:
Letras, PUC, Rio de Janeiro, RJ; Pós-Graduação em Língua Portuguesa; Pós-Graduação em Filologia; Pós-Graduação em Linguística

Em 14 de de abril de 1930, aos 36 anos, Vladimir Maiakóvski, o maior
poeta russo da era contemporânea, deu um fim trágico à sua atormentada
vida. Matou-se porque perdeu toda a esperança e se viu diante de uma
estrada sem saída.

Sua obra é absolutamente revolucionária, como revolucionárias eram as
suas idéias. Mas o poeta, dizia ele, por mais revolucionário que seja,
não pode perder a alma!
Ele acreditou piamente na Revolução Russa e pensou que um mundo melhor
surgiria de toda aquela brusca e violenta transformação. Aos poucos,
porém, foi percebendo que seus líderes haviam perdido a alma.

A brutalidade crescia. A impunidade era a regra. O desrespeito às
criaturas era a norma geral. Toda e qualquer reação resultava em mais
iniqüidades, em mais violência. Um stalinismo brutal assolou a pátria
russa. Uma onda avassaladora de horror e impotência tomou conta de seu
espírito, embora ainda tentasse protestar. Mas foi em vão. Rendeu-se e
saiu de cena.
Em 1936, escreveu Eduardo Alves da Costa o poema No caminho com Maiakóvski, que resume sua desoladora tragédia. "... Na primeira noite eles se aproximam/ e roubam uma flor/ de nosso jardim./ E não dizemos nada./ Na segunda noite, já não se escondem:/ pisam as flores,/ matam nosso cão,/ e não dizemos nada./ Até que um dia,/ o mais frágil deles/entra sozinho em nossa casa,/ rouba-nos a luz e,/ conhecendo nosso medo,/ arranca-nos a voz da garganta./ E já não podemos dizer nada."
Nestes tristes tempos, muitos estão vivendo as angústias desabafadas neste poema. Também acreditaram em líderes milagrosos, tiveram esperanças em dias mais serenos, esperaram por oportunidades melhores e sonharam com paz e alegria. Nunca imaginaram que, em seu lugar, viriam a impunidade, a violência, o rancor e a cobiça. Os que chegaram ao poder, sem nenhuma noção de servir ao povo, logo revelaram a sua verdadeira face.
O País está vivendo uma fase de completo e total desrespeito às leis.
A Lei Maior, aquela que o País aprovou por meio de seus
representantes, não existe. Para uns, todas as leniências. Para
outros, todos as violências. Nas grandes cidades, dois governos, duas
autoridades: a tradicional e a dos marginais. No campo, ausência de
direitos e deveres. Uma malta de desocupados, chefiados por líderes
atrevidos e até debochados, está conseguindo levar o desassossego e a
insegurança aos milhões de trabalhadores rurais que ali se esforçam
para sobreviver. Isso já vem acontecendo há muito tempo e não há sinal
de que alguma autoridade pretenda submetê-los às penas da lei. Ao
contrário. Eles gozam de imenso prestígio junto ao presidente, que não
se acanha em lhes dar cobertura e agir com a maior cumplicidade.
A ausência das autoridades tem sido o grande estímulo para que esses
grupos, e outros que vão surgindo, venham conseguindo, num crescendo
de audácia e desrespeito, levar o pânico aos que vivem do trabalho no
campo. A mesma audácia impune garante também a expansão das quadrilhas
de narcotraficantes em todo o País. A cada dia que passa eles chegam
mais perto de nós. Se examinarmos com atenção os acontecimentos destes
últimos dois anos, dá para entender o nosso medo.
Quando explodiu o caso do Waldomiro Diniz, as autoridades estavam na
obrigação de investigar tudo e dar uma punição exemplar. O que se viu?
Uma porção de manobras para encobrir os fatos e manter os esquemas
intocáveis. E qual foi a reação do povo? Nenhuma.
 Roubaram uma flor de nosso jardim, a flor da decência, da dignidade, da ética, e nós não dissemos nada! Quando, da noite para o dia, dezenas de deputados largaram suas
legendas e se bandearam para as hostes do governo, era preciso
explicar tão misteriosa adesão. O que se viu? Uma descarada e
desafiadora alegria no alto comando do País! E qual foi a reação do
povo? Nenhuma.
Eles nem se esconderam. Pisaram em nossas flores, mataram o cão que
nos podia defender. E nós não dissemos nada!
Quando um parlamentar, que integrava a tal maioria, veio denunciar o
uso de recursos públicos, desviados de forma indecente, com a
conivência dos altos ocupantes do governo, provando que a direção do
PT e do governo sabiam de tudo e de tudo se haviam aproveitado, qual
foi a reação do povo? Nenhuma.
Eles nem se importaram com o fato de terem sido descobertos. O mais
frágil deles entrou em nossa vida, roubou a luz de nossas esperanças
e, conhecendo o nosso medo, ainda se deu ao luxo de arrancar a nossa
voz da garganta!
Será que vamos aceitar? Não vamos dizer nada? Será que o povo
brasileiro perdeu de vez a sua capacidade de se indignar? A sua
capacidade de discernir? A sua capacidade de punir?
Acho que não. Torço para que isso não esteja acontecendo. Sinto, por
onde ando e por onde vou, que lá no mar alto uma onda de nojo está
crescendo, avolumando-se, preparando-se para chegar e afogar esses
aventureiros. Não se trata, simplesmente, de uma questão eleitoral.
Não se cuida apenas de ganhar uma eleição. O importante é não perder a
alma. O direito de sonhar. A vontade de viver melhor.
Colocar este momento como uma simples luta entre governo e oposição é
muito pouco. E derrotá-los, simplesmente, também é muito pouco, diante
do crime que eles praticaram contra as esperanças de um povo de
boa-fé.
O que vai hoje na alma das pessoas é o corajoso sentimento de que é
preciso vencer o pavor e o pânico diante da audácia dessa gente, não
permitindo que eles nos calem para sempre. Se não forem enfrentados,
se não forem punidos, se seus métodos e processos não forem
repudiados, nosso futuro terá sido roubado. Nossa voz terá sido
arrancada de nossa garganta.
E já não poderemos dizer nada.

Fonte: http://pensadordelamancha.blogspot.com/2010/07/ja-nao-podemos-dizer-nada-por-sandra.html

“Sinto, por onde ando e por onde vou, que lá no mar alto uma onda de
nojo está crescendo, avolumando-se, preparando-se para chegar e afogar
esses aventureiros. Não se trata, simplesmente, de uma questão
eleitoral. Não se cuida apenas de ganhar uma eleição. O importante é
não perder a alma. O direito de sonhar. A vontade de viver melhor.”

IMAGENS VALEM MAIS QUE PALAVRAS - AUTOR DO BLOG
    PETROBRÁS - FOME ZERO. NÓS FINANCIAMOS A GUERRILHA.

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